quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Um drops verde

MENTAlidade: Por que é tão difícil ser ecologicamente consciente?

A preocupação dos brasileiros com o meio ambiente aumentou, mas ainda cresce devagar, segundo a última pesquisa do Instituto Vox Populi, divulgada em maio de 2006. Apenas 6% dos 2000 entrevistados, todos maiores de 16 anos e moradores das cinco regiões do país, colocaram a questão ambiental como um dos principais problemas do Brasil, entre os quais figuram o desemprego, a violência e a deficiência dos serviços de saúde. Nos Estados Unidos, o pensamento com o meio ambiente ocupa a vigésima posição no ranking de preocupações dos americanos.
Afinal, por que é tão difícil ter uma mente ecologicamente consciente? Para Denise Paieiro, professora do Centro de Comunicações e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, “assumir padrões de comportamento ‘ecologicamente corretos’ implica em reduzir consideravelmente o conforto e, principalmente, o consumo. A ideia de padrão de vida - e de felicidade contemporânea - está diretamente ligada à possibilidade de consumir. Ir contra isso no cotidiano é muito difícil”.
A resistência a adoção desse tipo de comportamento também está ligada aos desejos dos indivíduos e a cultura de cada um. Para a psicóloga Cristina De Vecchi, “ o que desejar é baseado em infinitas vivências de um ser humano, boas e ruins. As pessoas sabem o que é certo, mas os costumes, os vícios estão enraizados no nosso ser, soma dos anos todos que nós vivemos de um jeito, tido como certo até então ”.
Atentos a essa tendência mundial em subestimar a relevância da questão ambiental, cientistas começaram a se dedicar a outros tipos de pesquisas, que vão além dos estudos físicos e biológicos sobre a questão climática.
Pesquisadores comportamentais da Universidade de Columbia, nos EUA, formaram um grupo chamado CRED, Center of Research on Environmental Decision, que estuda como tomamos decisões e assumimos determinados comportamentos e atitudes. A pesquisa procura entender como reagimos com resultados a longo prazo, fazendo sacrifícios agora para obter resultados positivos no futuro ou, sustentavelmente falando, preservar hoje para garantir amanhã. “No dia a dia, são poucas ações que dão conta da preservação futura do mundo - e da própria vida humana, afinal, para o homem contemporâneo a ‘vida é agora’”, aponta Paieiro.
O processo mental pelo qual se dá a tomada de uma decisão é feito por duas instâncias psíquicas distintas. Uma, conhecida como superego, trabalha analiticamente, considerando os custos e os benefícios de uma decisão. O id, instância oposta, analisa os riscos por meio dos sentimentos e emoções, cuja base é a experiência pessoal. A negociação entre esses dois sistemas é mediada pelo ego, responsável por colocar em prática a decisão tomada.
Segundo o estudo dos cientistas, nós não somos muito adeptos a resultados a longo-prazo e tendemos a subestimar promessas futuras. De acordo com Vecchi, esse comportamento não é um fato. “Caso isto ocorra, o fazemos porque não nos reconhecemos nessas promessas. Prometemos, mas não nos identificamos”, disse ela. Para o meio ambiente isso significa uma ameaça, na medida em que somos menos propensos a mudar nosso comportamento a fim de garantir um futuro ambiental mais seguro.
A preocupação com o meio ambiente é rapidamente substituída quando um problema diferente, seja pessoal ou social, aparece em nosso cotidiano. Ainda que pudéssemos manter constante a preocupação sobre a natureza, muitos encontram na compra de tecnologias sustentáveis ou no voto em candidatos verdes uma forma de se redimir diante do aquecimento global. De acordo com Paieiro, “a ideia de sustentabilidade é importante, mas mais como algo que deve ser comprado”. Voltamos, assim, da onde começamos.
As tendências psíquicas humanas não são justificativas para o descuido com o meio ambiente. Antes devem ser vistas como fatores de redobrada atenção sobre o nosso comportamento e como formas de melhorar as mensagens de instituições e órgãos sobre o meio ambiente.

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