terça-feira, 15 de setembro de 2009

Um drops da (vergonhosa) paulicéia

Vale no abismo social

Cupom dado pelos lojistas da Oscar Freire aos moradores de rua dos Jardins gera polêmica e divide opiniões.

Em São Paulo, existem hoje cerca de 14 mil moradores de rua, segundo estimativa da Prefeitura. Para lidar com a realidade dessas pessoas, a Associação dos Lojistas da Oscar Freire, em parceria com a ong Aliança de Misericórdia, lançou o Vale Valor, cupom dado aos moradores de rua da região dos Jardins para substituir a esmola. O vale pode ser trocado por alimentação, abrigo e saúde na Casa Restaura-me, localizada no Brás.
Segundo Renata Lima Pinto, uma das responsáveis pela Aliança de Misericórdia, entidade que mantém a Casa Restaura-me, o objetivo do projeto é conscientizar as pessoas como elas podem efetivamente colaborar. “Motivadas pelo desejo de ajudar ou pela culpa, muitos dão o dinheiro porque é mais fácil. Essa atitude não é eficaz na transformação da realidade do morador de rua”, disse Pinto.
Os lojistas da Oscar Freire apóiam a proposta. “Nós achamos a iniciativa interessante, mas os pedintes a entendem como uma grande bobagem. O que eles querem mesmo é dinheiro”, disse Lia Diabi, gerente da loja Marlene. E completa, “isso não resolveu o nosso problema. Não afastou (os pedintes)”. Na loja Princess, no entanto, a atendente Priscila Carvalho, contou que um morador de rua já entrou a procura do cupom. “Vocês sabem onde eu consigo esses vales? A gerência se mostrou interessada na proposta”, afirmou ela.
Nas 110 lojas associadas, os clientes podem depositar seus trocados em cofres de papelão. Todo o dinheiro arrecadado é revertido para a Casa Restaura-me, mas a contribuição não é obrigatória. Para Guilherme Braziel, 20, “essa é uma atitude que visa tirar os moradores de rua de um bairro considerado de classe alta para um de classe baixa, visando apenas à aparência”. Entretanto há quem aprove o vale-valor. Camila Vieira, 26, diz que “é uma forma de ajudar e mostrar que existem pessoas que pensam neles”.
Pemba, morador de rua, já ganhou um Vale-Valor. “Não fui até o lugar de troca porque é longe para mim. Prefiro ficar aqui mesmo”, explicou ele.

Reflexo da desigualdade: morador de rua dorme em frente à loja de luxo na Oscar Freire.

Polêmica

A iniciativa gerou polêmica porque alguns consideram a medida como uma forma de expulsar a população carente de uma das oito ruas mais luxuosas do mundo, o que pode configurar uma prática higienista. Para Pinto, “é muito mais um olhar desviado do que de fato uma ajuda”. Segundo a socióloga Rosana Schwartz, essa pode ser uma forma de afastar as pessoas do bairro. “Esmola não resolve como dizem, mas não ver os pobres piora ainda mais”, disse.
Outro ponto questionável é quanto à localização da casa onde os moradores podem trocar o vale. A Aliança de Misericórdia informou que não possui pontos de assistência no bairro dos Jardins.
Até agora nenhum Vale-Valor foi trocado na Casa Restaura-me. “É impossível fazer essa triagem, porque eu não posso exigir da pessoa que ela segure o cupom. Eu quero que ela chegue lá e que possa ser ajudada”, revelou Pinto. A Aliança de Misericórdia desenvolve outros projetos sociais anteriores ao Vale- Valor, lançado em junho deste ano.
A questão é empurrada entre os órgãos municipais. Tanto a subprefeitura de Pinheiros quanto a da Mooca, responsáveis pelas regiões dos Jardins e do Brás disseram que a competência municipal para tratar de questões envolvidas com assistência social é da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.
A SMADS informou que “não comenta ações de instituições privadas voltadas para moradores em situação de rua”. A Secretaria informou que atende esta população em 40 Centros de Acolhida espalhados pela cidade.
Você também pode ajudar!

As instituições abaixo atendem moradores de rua na região central da cidade de São Paulo. Você pode contribuir doando alimentos, calçados, vestuários, brinquedos, produtos de higiene e/ou limpeza. Qualquer ajuda é muito bem-vinda.

Casa Restaura-me:
Atendimento: até 400 pessoas por dia. Só 50 podem dormir na casa.
Rua Monsenhor Andrade, 746 - Brás

Albergue do Gasômetro
Rua do Gasômetro, 821 – Brás
Serviços: Café da manhã, jantar, pernoite e lavagem de roupa
Capacidade: 90 pessoas

Comunidade Missionária
Rua Riachuelo, 272 B - Centro
Serviços: Banho, lavagem de roupa, atividades, biblioteca, creche.
Capacidade: 120 pessoas

5 comentários:

  1. É melhor do que dar dinheiro, FATO!
    E se eles não querem os mendigos lá, achando que atrapalha no comércio, estão certos!
    E estão tentando tirá-los de uma forma limpa, não EXPULSANDO-OS como alguns dizem...
    Beijos.

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  2. Acho a iniciativa bstate válida.
    Em Santo André uma freira Irmã Indiana começou há muito tempo atrás um programa parecidoco meninos de rua, as pessoas interessadas podiam retirar o vale na instituição e quando uma criança ou adolescente pedisse dinheiro dava-se esse vale. Demorou um pouco mas trouxe resultados excelentes. Hoje é muito dificil encontrar meninos de rua em Santo André. O projeto dela chama-se Projeto Jeda, há um site que fala sobre esse trabalho, é só procurar no google.

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  3. Qualquer ação positiva, irá refletir reação positiva!
    Uma iniciativa muito válida, infelizmente aqui não há nada parecido! Meus sinceros parabéns pela atitude.

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  4. FALTA INICIATIVAS ASSIM!

    AS PESSOAS SE ACOMODAM!

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  5. é uma boa aposta! Vamos tocer para que vá adiante.

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