Fotomontagem de Anton Stankowski dá vazão para a criatividade e para a crítica
Exposta na sala Fantasias Formais, a fotomontagem sem título de Anton Stankowski (1906 – 1998) pode ser interpretada como uma crítica à racionalidade burguesa em favor de uma busca pelo maravilhoso, pelo imaginário. Tais ideias, por sua vez, constituem as bases sobre as quais se desenvolveu o Surrealismo, movimento artístico surgido na França entre 1917 e 1933. Essa escola, muito influenciada pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, preconizava a importância do inconsciente, do irracional e dos sonhos na criatividade do ser humano.
O próprio conceito de fotomontagem usado pelo design alemão já traduz essa tentativa de dar vazão às percepções não visíveis. A livre associação de imagens traz à tona o imaginário e o inconsciente na obra.
O efeito de provocar sensações por meio dessas mesmas metáforas visuais, objetivo buscado por toda a exposição, pode também ser sentido na obra do pintor e fotógrafo alemão. Do corpo de uma pessoa afogada na burocracia da vida cotidiana, só restam as mãos que tentam parar os ponteiros do relógio.
A crítica da obra pode ser apreendida pelos elementos que compõem a foto. Juntos, eles determinam uma apreciação contundente sobre os valores racionais da sociedade moderna. As relações contratuais que permeiam as relações humanas contemporâneas acabam por sufocar os seus membros. Atarefada na burocracia cotidiana, a vida se resume numa corrida contra o relógio. As mesmas mãos que assinam tantos acordos tentam parar o tempo.
Em uma análise mais atenta, que complementa e fecha todo o questionamento da obra, deve-se notar o avião em queda, no pano de fundo da foto. Uma metáfora visual para a decadência humana em meio a tantas cláusulas e parágrafos. Mais notável é o tipo de avião colocado na montagem. Um caça aéreo usado no período entre guerras que, assim, redefine esse acontecimento militar com um aspecto de declínio do ser humano.
Não só na ideia, como também nos seus componentes, a fotomontagem exposta no MAM conversa com outras obras do surrealismo. O relógio na foto de Stankowski, por exemplo, pode retomar o quadro A Persistência da Memória, de Salvador Dali, um dos principais representantes do movimento surreal.
A presença dos relógios nas duas obras mostra o aparelho como símbolo da lógica e da disciplina da sociedade moderna. Na obra de Dali, a flacidez dos objetos, dependurados e moles, mostra a quebra dessa representação simbólica. O único relógio que se mostra em perfeito estado, no canto inferior esquerdo da tela, está virado para baixo, assim como o avião na fotomontagem de Stankowski. A crítica de um vai ao encontro da crítica do outro.
Entre paralelos e livres-associações, a imaginação está sim a serviço da criatividade. Mas correlata a ela está todo o potencial crítico e questionador do ser humano.
Exposta na sala Fantasias Formais, a fotomontagem sem título de Anton Stankowski (1906 – 1998) pode ser interpretada como uma crítica à racionalidade burguesa em favor de uma busca pelo maravilhoso, pelo imaginário. Tais ideias, por sua vez, constituem as bases sobre as quais se desenvolveu o Surrealismo, movimento artístico surgido na França entre 1917 e 1933. Essa escola, muito influenciada pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, preconizava a importância do inconsciente, do irracional e dos sonhos na criatividade do ser humano.
O próprio conceito de fotomontagem usado pelo design alemão já traduz essa tentativa de dar vazão às percepções não visíveis. A livre associação de imagens traz à tona o imaginário e o inconsciente na obra.
O efeito de provocar sensações por meio dessas mesmas metáforas visuais, objetivo buscado por toda a exposição, pode também ser sentido na obra do pintor e fotógrafo alemão. Do corpo de uma pessoa afogada na burocracia da vida cotidiana, só restam as mãos que tentam parar os ponteiros do relógio.

A crítica da obra pode ser apreendida pelos elementos que compõem a foto. Juntos, eles determinam uma apreciação contundente sobre os valores racionais da sociedade moderna. As relações contratuais que permeiam as relações humanas contemporâneas acabam por sufocar os seus membros. Atarefada na burocracia cotidiana, a vida se resume numa corrida contra o relógio. As mesmas mãos que assinam tantos acordos tentam parar o tempo.
Em uma análise mais atenta, que complementa e fecha todo o questionamento da obra, deve-se notar o avião em queda, no pano de fundo da foto. Uma metáfora visual para a decadência humana em meio a tantas cláusulas e parágrafos. Mais notável é o tipo de avião colocado na montagem. Um caça aéreo usado no período entre guerras que, assim, redefine esse acontecimento militar com um aspecto de declínio do ser humano.
Não só na ideia, como também nos seus componentes, a fotomontagem exposta no MAM conversa com outras obras do surrealismo. O relógio na foto de Stankowski, por exemplo, pode retomar o quadro A Persistência da Memória, de Salvador Dali, um dos principais representantes do movimento surreal.
A presença dos relógios nas duas obras mostra o aparelho como símbolo da lógica e da disciplina da sociedade moderna. Na obra de Dali, a flacidez dos objetos, dependurados e moles, mostra a quebra dessa representação simbólica. O único relógio que se mostra em perfeito estado, no canto inferior esquerdo da tela, está virado para baixo, assim como o avião na fotomontagem de Stankowski. A crítica de um vai ao encontro da crítica do outro.
Entre paralelos e livres-associações, a imaginação está sim a serviço da criatividade. Mas correlata a ela está todo o potencial crítico e questionador do ser humano.
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